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terça-feira, 29 de outubro de 2013

DESVIRTUAR

já te usei duas vezes hoje, uma por escrito, outra em conversa. 
achas que quer dizer alguma coisa?

YOU HAVE MAIL

tinha aquela lista de to do's que sempre a assistia e crescia. o tempo para ir resolvendo isto e aquilo ia desaparecendo e os restos que sobravam eram para o que lhe parecia mais importante do que riscar um desses pontos: para ele, para elas e para um sentimento de filha-única difícil de gerir sozinha (!).

depois de um mês de ritmo a 300, tinha chegado a altura de sair dali e permitir-se horas de descanso saudável, daquele em que não estava parada mas em que realmente descansava.

e foi este. o fim-de-semana de sair de Lisboa e rumar a Viseu. correr na antiga linha férrea e conhecer novos caminhos (estava na Suiça?), ler, pensar e rezar, passar horas à frente da lareira, ver um bom filme ("À Prova de Fogo", tão bom mesmo sem um único ator conhecido), falar sobre o filme, comer torradas-com-azeite-sal-e-oregãos e desistir para sempre de beber café, namorar, conhecê-lo melhor e vê-lo no seu habitat natural - no meio da família, doer a barriga de tanto rir, festejar os 25 anos de casados dos tios dele, conhecer mais pessoas, imaginar como seria a minha vida com um par de botas lindas daquelas e aproveitar para dormir a sério. e fazer deste fim-de-semana aquilo que imagino fariam as senhoras há 100 anos: escrever cartas à mão.

onde estão as 18h com que eu sempre sonhei

a sério?

Há casamentos que duram menos que certos contratos com um operador de telecomunicações.

Foi com esta frase que Ana Brito decidiu começar o seu artigo no Público de hoje, um artigo que em nada se relaciona com casamentos e que trata apenas de reclamações recebidas pela DECO sobre os prazos de fidelização avultados dos operadores de telecomunicações.

Sempre me pareceu necessária uma boa mas boa dose de criatividade para exercer jornalismo. É verdade que em Portugal o normal já não pega e procuram-se meios e sub-formas de puxar a atenção do consumidor de notícias e afins. E parece-me que, enquanto se continuar a nivelar por baixo, através de comparações sem nexo, imagens a roçar o absurdo e conteúdos que interessam -2, não teremos uma Comunicação Social que se orgulhe de ser isso mesmo: uma forma de comunicar, com verdade, a informação de um meio social que é normal, fácil de chegar e que respira beleza. Sem precisarem de trazer à tona aquilo que é sempre anormal e inalcansável para o comum dos mortais. E zero giro.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

INFLUÊNCIAS

vivemos uma vida inteira debaixo do mesmo teto, com os mesmos amigos e a falar a mesma língua. nos primeiros 10 anos de vida fomos literalmente uma só, porque olhando para fotografias não consigo perceber se sou eu, se ela. os seguintes 10 foram os anos de divergência - era preciso, pensávamos. afinal, só assim desenvolveríamos uma personalidade e mostraríamos ao mundo que uma eram agora duas: duas pessoas, duas almas e dois corações. tão parecidas como diferentes, trilhámos caminhos opostos, procurámos soluções alternativas, chamámos por diferentes ídolos.

mas, inevitavelmente, a mesma estrutura, os mesmos quereres e as mesmas raízes, levaram-nos a um caminho semelhante. e desta vez, quando nos voltámos a encontrar, estávamos diferentes: ela mais ela, eu mais eu. parecidas na forma de estar, diferentes na forma de ser.

e foi ontem. combinámos ponto de encontro lá em casa, às minhas horas de saída - aí perto das nove. eram dez e muito quando meti o primeiro pé dentro de casa. de há uns dias para cá que a vinha ouvindo dizer que tinha um projeto irrecusável para me apresentar e à primeira garfada de alface com alface, começou a falar. já a conheço, pensei, quando a vi abrir a agenda e começar a seguir uma ordem de pontos previamente anotados com uma caligrafia de ler e chorar por mais. aquela organização, pensei. ouvi-a até ao fim, enquanto me deixava convencer por aquele que poderia ser um projeto a duas. paralelamente, aconteceu-me o que acontece a todas as mulheres quando sentem um qualquer desconforto: pensava num outro tema, indiretamente associado a quem naquele momento me falava: que a ordem por ela vivida não era consequência de um mérito adquirido à nascença. não se dava sequer o caso de poder ter ficado com os meus 50% de arrumação quando partilhámos a mesma barriga. não, era resultado de esforço pessoal. um dia, depois o outro, depois o outro. só isso explicava o excel que partilhava com ele onde faziam um minucioso orçamento e definiam propostas de poupança ou despesas futuras. só isso explicava o bom, mas bom, que era entrar naquela sua casa: limpa, arrumada e com ar de lar, dos luminosos e alegres que sempre me invejaram. só isso explicava a carteira arrumada, o ar arrumado e a harmonia de vida.

chegou o momento em que teve que ir embora - afinal a ordem estendia-se também à hora de dormir para garantir que não se cortava no sono - enquanto eu fiquei a pensar naquilo. e naquilo. no projeto, que a seu tempo trarei para aqui e que me tem vindo a convencer mais e mais a cada segundo que passa. mas também naquela ordem, que já me tirara do sério quando vivíamos juntas: era como entrar num quarto que parecia a zara home no momento de abertura de portas - roupas por cores, velas com cheiro a impregnar o ar de cheira bem e tudo com espaço de alocação previamente definido - e passar de seguida para o meu, um quarto de guerra, qual feira da ladra na hora de fecho.


três da manhã. era hora de apagar a luz e ir dormir. o quarto estava agora arrumado em modo brinco e já podia fechar os olhos descansada. as roupas penduradas respiravam alegria e as coisas debaixo da cama já não tinham o estatuto de não-sei-onde-meter-isto-a-não-ser-aqui.

o que fica por dizer: o esforço de me arrastar para fora da cama no dia seguinte. e o perigo que representa a eficácia destas influências.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

acreditaram que valerias ouro

é como se fosse ontem. foi onde tudo começou. ia a caminho da praia grande na carrinha encarnada gigante com manas, primas e tia T. estávamos a passar um dias na serra de sintra, em casa da avó. ia perdida a olhar para as árvores de outono e decidi abrir a janela - as curvas da serra sempre me deixaram a ver a dobrar. cabeça de fora e foi quando aconteceu: caí em mim. comecei a pensar no mundo, olhando-o de fora. como quem assiste a um filme. e tentei andar para trás, chegar a respostas de "quem foi o primeiro". o primeiro que por aqui andou e que tudo começou. o arquiteto da maravilha que era tudo aquilo. depois de um esforço real, não consegui. passei à pergunta seguinte, tentando imaginar como é que tudo seria se não houvesse mundo. mas isso implicava que tudo aquilo que conhecia e que tinha como certo, certíssimo, não existiria. nada, nada. a praia grande, a piriquita, os meus pais, os meus irmãos: nada, ninguém. a sensação de vazio começava a aterrar e a gelar-me. e foi quando me lembrei daquilo: o sítio onde, nos últimos 24 anos, marquei presença a cada domingo. tinha que existir alguém que me queria ali, alguém que me criara porque sim, sem complicações. para ser amada e para amar os que me fossem dados. alguém que me enviaria em viagem, esperando-me anos mais tarde com uma mochila cheia daquilo que foram os tempos passados por aqui. nessa noite, dormi descansada. não só por saber que este caminho era um enorme presentão, mas por saber de onde vinha e para onde iria. na mais pura liberdade dos filhos de Deus, subiria os sete degraus de mão dada a um Pai que agora sabia como meu.

e agora, passados alguns anos, vejo a cara de radiante dela ao saber que ele, de centímetros, está ali. está nela e com ela. está neles. e é deles. e porque sei que para ela, ele, de centímetros, é um dom. um tesouro daqueles irreplicáveis, por ser demasiado bom para ser verdade. e porque percebo que para ele, ser pai é mais do que uma eventualidade: é o resultado físico e visível de um amor maior vivido pelos dois. é a personificação desse amor, daqueles que queremos para toda a vida.

e agora, passados alguns anos, reconheço que a vida é vida desde antes sequer de o ser. e que é 300% vida desde o primeiríssimo momento da conceção de uma criança. não há idades, horas ou segundos. a lógica, neste caso, não é matemática: é de amor. se nos é dado, então venha a capacidade de reconhecer a maravilha desse bem. agradecer, agradecer. e agradecer. e amá-lo, sem regatear. ser, simplesmente, simples. simples é algo que deixámos de conseguir ser, num mundo em que tudo pretende facilitar-nos a vida. perdemos a capacidade de descomplicar e aceitar que a vida é boa e simples e que a liberdade serve para decidir com vista a um bem maior, sempre. sem altruísmos ou egoísmos. e simples são as vidas humanas, desde a sua conceção. e complicados somos nós que nos esquecemos que cada criança que vem traz um pão debaixo do braço.


CAMINHADA PELA VIDA 5 de Outubro 2013 15h Marquês de Pombal - Praça do Rossio
e aproveitar, de sorrisão, a alegria dos 22ºC e de termos os nossos pais, que souberam dizer que sim e por isso estamos aqui, com capacidade para escrevermos a nossa própria história

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

era isto que estava a faltar. chuva.

e os sete graus negativos

era uma vez

uma daquelas histórias típicas que 
mais tarde servirão de mote para 
explicar 20Kgs extra em duas
semanas. duas. show.

acontece que por aqui apareceu um senhor que me anda a tirar do sério. nunca nos tínhamos cruzado e estávamos os dois melhor assim. e de repente, todo o escritório quer apresentá-lo à força, alegando que lhe faltam amigos, que nem todos conhecem as suas propriedades e que é portador de grande felicidade. não me convencia. mas nas últimas semanas, após grande insistência, veio até ao meu departamento todos os dias. todos os dias menos um. 

e nesse dia, morri de saudades. senhor pão de Deus: passou a persona non grata e agradeço-lhe que desista das investidas ao 8º piso. até qualquer dia
say... next weekend? :)

WISHHH LIST

Ir à Índia sozinha - Check, twice. 4 meses que repetia já amanhã se este, aqueles e aquelas viessem também

Viagem de amigos à terra Natal - Check, Irlanda onde espatifámos um carro porque nos esquecemos que se guia on the wrong side of the road

Subir ao Pico - Check, com boleia para voltar para baixo que nos valeu um belíssimo susto e mais algumas coisas que não vale a pena relembrar

Dormir em alto mar - Check, com a costa Norte de África bem perto e com um plano ambicioso para nos livrarmos dos enjoos: simulação de doença grave e hospital de Gibraltar com elas

Guiar uma moto4 - Check, muito a medo, à três fins-de-semana (obrigada pelo voto de confiança em que não nos ia atirar pela barragem!)





Passeio de kayak - Já agendado para Outubro
Uma aventura pelo Tejo com duração de 2h
Programa do mulherio (M, M, T e ?)

Fica a faltar: andar de balão, saltar de um avião, descer um rio à noite, fazer o transiberiano (!) e dar um saltinho ao Chile.

P.S1. Para o/a meu/minha querido/a "?": Acredito que serás uma rapariga, uma Luisinha querida da tia Ana
P.S2. Mas se fores rapaz, vais ser igualmente apertado nas bochechas e mimado até mais não. Às escondidas da mãe, está claro.

tão raro e tão bom

Cara Ana,

Foi com muito agrado que tive conhecimento do email que enviou para a RTP sobre a reportagem que realizei "Eu sou assim".

São palavras como as suas que estimulam o difícil trabalho que um jornalista desenvolve diariamente. E serão sempre aceites as boas e as más criticas, pois é da opinião que os outros têm de nós, como profissionais, que nos tornamos melhores.

Mais uma vez, grata pela sua atenção e delicadeza.

Atentamente,

Mafalda Gameiro
Direção de Informação Televisão
Editora Chefe

terça-feira, 1 de outubro de 2013

she's back!


and so well back

até qualquer dia

a decisão de acabar tudo tinha demorado a chegar. andava a pensar, a pensar. já em tempos tomara a decisão, tinha ido para a frente com aquilo e tinha sido eficaz, pensava. até deixar de o ser. em jogo estavam os amigos, a família, as pontes que os uniam. e tão rápido como acabava, recomeçava. passavam-se meses de muito tempo juntos e de confidências. tempos e confidências que não se enquadravam ali. mas agora, com a maturação da decisão, foi firme e eficaz (esperando não deixar de o ser). acabou. cancelou o facebook definitivamente até voltar a ver ali uma utilidade que não lhe tirasse tanto tempo e que não a ligasse às pessoas que lhe não são nada de físico, apenas virtual.

a verdade é que os parabéns caíram para 1/15 e que tenho que ligar para saber desta ou daquela. a verdade é que soube que a outra vai casar, semanas depois de todo um mundo. a verdade é que às vezes tenho saudades e que gostava da ideia de pôr aquela nossa fotografia e mostrar ao mundo caras de férias radiantes.

e a verdade é que o tempo duplicou, triplicou até. e a verdade é que sei de quem quero e como quero, com um news feed que passou a chamar-se ligas-me?. e que já não há interrupções laborais com a desculpa de descansar a cabeça - acabava sempre mais cansada e não há nada que ligar à pessoa certa não resolva. sempre me pareceu que há uma grande solidão por parte de quem passa a vida no facebook e eu corria o risco de me tornar essa pessoa. a verdade é crua e a minha é esta.

EU SOU ASSIM

Boa tarde,

O meu nome é Ana Ulrich, tenho 24 anos e quero agradecer à RTP a excelente reportagem jornalística emitida no dia 22 de Setembro 2013, “Eu Sou Assim”. Aproveito para dar os meus parabéns à jornalista Mafalda Gameiro e a toda a equipa que se lembrou de fazer uma reportagem com tanto conteúdo e relevância para a sociedade em que nos encontramos, com uma crescente tendência de desânimo e de procura de referências com padrões superiores, tanto a nível pessoal como espiritual.

Muito obrigada à RTP pela qualidade com que presta o seu serviço e as suas reportagens.

Subscrevo-me atentamente,
Ana Ulrich

Porque quando é bom, há uma razão ainda maior para não nos calarmos.